"A angústia é o caráter típico e próprio da vida. A vida é angustiosa. E por que é angustiosa a vida? A angústia da vida tem duas facetas. De um lado, é necessidade de viver, é afã de viver, é anseio de ser, de continuar sendo , para que o futuro seja presente. Mas, de outro lado, esse anseio de ser leva dentro o temor de não ser, o temor de deixar de ser, o temor do nada. Por isso, a vida é, de um lado, anseio de ser e, de outro lado, temor do nada. Essa é a angústia. Pois o nada amedronta o homem."
(Manuel García Morente - Fundamentos de filosofia, p.311)
Nesses dias frios, típicos da estação que ora brinda-nos com céus limpidamente azuis, ora cinzas e molhados, pondero sobre o mundo que tenho aprendido a enxergar através das lentes de uma máquina fotográfica.
A estupefação revela-se nos detalhes de prédios seculares, quase soterrados entre arranha-céus gigantescos e espelhados pelo centro dessa metrópole, de longe a mais eclética. Mas há de ter cuidado, existe sempre um vilão à espreita, pronto para o bote. Num descuido e o sonho lhe é roubado. Não, não se pode vacilar. A vida é frágil demais e requer cuidados.
Tristes são as verdades estampadas na cara, reveladas em depredação, esquecimento, abandono, impunidade, descaso, violência gratuita.
Felizmente há momentos de doçura, puro encanto e ternura captados num sorriso infantil, no olhar gentil de um animal, no semblante franco de um amigo, no conforto de um abraço e no prazer de um afago.
A vida é repleta de cliques adoráveis, mas existem as revelações desagradáveis, o que é inevitável, indispensável até, pois há muito o que aprender com as falhas. O segredo está em persistir. E o que é a vida senão um eterno aprender-praticar-persistir?
Necessário lembrar das pausas para assimilar o aprendizado e a paciência para eternizar o momento e descobrir o prazer em enxergar a vida por outros ângulos, por mais angustiosa que essa pareça.