quinta-feira, julho 26, 2007


"A angústia é o caráter típico e próprio da vida. A vida é angustiosa. E por que é angustiosa a vida? A angústia da vida tem duas facetas. De um lado, é necessidade de viver, é afã de viver, é anseio de ser, de continuar sendo , para que o futuro seja presente. Mas, de outro lado, esse anseio de ser leva dentro o temor de não ser, o temor de deixar de ser, o temor do nada. Por isso, a vida é, de um lado, anseio de ser e, de outro lado, temor do nada. Essa é a angústia. Pois o nada amedronta o homem."

(Manuel García Morente - Fundamentos de filosofia, p.311)

Nesses dias frios, típicos da estação que ora brinda-nos com céus limpidamente azuis, ora cinzas e molhados, pondero sobre o mundo que tenho aprendido a enxergar através das lentes de uma máquina fotográfica.
A estupefação revela-se nos detalhes de prédios seculares, quase soterrados entre arranha-céus gigantescos e espelhados pelo centro dessa metrópole, de longe a mais eclética. Mas há de ter cuidado, existe sempre um vilão à espreita, pronto para o bote. Num descuido e o sonho lhe é roubado. Não, não se pode vacilar. A vida é frágil demais e requer cuidados.
Tristes são as verdades estampadas na cara, reveladas em depredação, esquecimento, abandono, impunidade, descaso, violência gratuita.
Felizmente há momentos de doçura, puro encanto e ternura captados num sorriso infantil, no olhar gentil de um animal, no semblante franco de um amigo, no conforto de um abraço e no prazer de um afago.
A vida é repleta de cliques adoráveis, mas existem as revelações desagradáveis, o que é inevitável, indispensável até, pois há muito o que aprender com as falhas. O segredo está em persistir. E o que é a vida senão um eterno aprender-praticar-persistir?
Necessário lembrar das pausas para assimilar o aprendizado e a paciência para eternizar o momento e descobrir o prazer em enxergar a vida por outros ângulos, por mais angustiosa que essa pareça.

quarta-feira, julho 04, 2007


Não me peçam calma enquanto violam meus direitos, invadem minha casa, roubam meus pertences e a vã idéia de porto seguro que tinha de meu lar.
Surtar, nessas horas, é a mais sábia das atitudes.
Após chutar algumas caixas que encontrei pelo caminho, esmurrar parede, dar voltas e mais voltas em torno do sofá e chorar de forma que causaria inveja a qualquer atriz hollywoodiana, senti-me preparada para suportar o que viria pela frente.
A pior das constatações não é o resultado da lista das coisas materiais que foram roubadas, mas enxergar, tristemente, que segurança é coisa tão etérea quanto o aroma de um bom perfume. E como este - por mais que seja de qualidade - um dia chega ao fim.
Passado o surto e a constatação, melhor tomar as providências para que o mal não se repita e, aí sim, buscar a calma para superar a longa espera e indiferença numa delegacia de polícia para obter um Boletim de Ocorrência.
Trocar a fechadura também é recomendável. E, segundo o chaveiro, (ilusória) segurança não se economiza.
Meus gatos passam bem, obrigada. Um pouco assustados, mas bem.
Minha amiga Debs, tão vítima quanto eu, também se recupera.
As coisas levadas serão, cada uma a seu tempo, repostas.
O restabelecimento da segurança, mesmo que utópica, está sendo providenciado.
A luta que travo agora é a de manter o que sobrou de fé na humanidade. Evitar a tentação de desconfiar da minha própria sombra. E sentir-me consolada por não ter acontecido nada pior.
Meu próximo passo será vestir minha fantasia de Colombina e comemorar as mazelas que vem nesse pacote que chamamos vida.
Faz parte?
Tenho minhas dúvidas.