"Existe uma diferença fundamental entre a fotografia e a pintura. A primeira constata, a segunda cria. A primeira é um documento e, mesmo quando desprovida de qualquer interesse, continua sendo um documento. A outra se baseia por inteiro na personalidade, e tudo desmoronaria num monte de escombros se esta faltasse. Como é que falavam da rivalidade entre as duas? A pintura fotográfica e a fotografia pictórica são as únicas rivais. Que elas se entredevorem, que elas se auto-eliminem, portanto, desaparecendo para sempre! A fotografia é a própria consciência da pintura. Ela lhe lembra incessantemente o que não deve fazer. Que a pintura assuma portanto suas responsabilidades. (...) Depois de admirarmos tudo o que a chapa fotossensível é capaz de revelar, buscaremos outra sensibilidade, a do fotógrafo. O que atrai o fotógrafo é justamente a possibilidade de penetrar nos fenômenos, de apreender suas formas. Ah, presença impessoal! Eterno incógnito! O mais humilde criado, o deslocado por excelência, que só vive nas imagens latentes. Ele as persegue até seus últimos refúgios, as surpreende no que existe de mais positivo, material e verdadeiro nelas. Quanto a saber se é preciso conceder-lhe o tão comprometido nome de "artista", realmente, isso não tem nenhuma, mas nenhuma importância."
(Brassaï - Artigo publicado em L'Intransigeant, em 15 de novembro de 1932 - Extraído do Livro Cartier-Bresson, O olhar do século, de Pierre Assouline, L&PM Editores, 2008)